Análise com 17 mil trabalhadores gerou índice médio de 64,5 pontos. Um ambiente saudável deveria atingir 78 pontos

saúde mental dos brasileiros está abaixo do nível considerado ideal, segundo um novo levantamento realizado pelo Zenklub, empresa da Conexa especializada em cuidado emocional corporativo. De acordo com o Índice de Bem-Estar Corporativo (IBC), o mínimo para que o emprego seja considerado saudável, em uma escala de 0 a 100, é de 78 pontos.

No levantamento mais atual, que analisou as respostas de 17 mil trabalhadores, de 503 empresas em 16 setores da economia, a média ficou em 64,5 pontos, abaixo dos 65,4 de 2023. O índice considerou nove fatores para saber como andam os riscos psicossociais da população ativa do Brasil: conflitos; preocupação constante; exaustão; autonomia e participação; volume de demanda; relacionamento com líderes; relacionamento com colegas; clareza nas responsabilidades; e desconexão do trabalho.

Para Rui Brandão, vice-presidente de saúde mental da Conexa e cofundador do Zenklub, o resultado reflete desafios estruturais no ambiente corporativo brasileiro. “De uma forma geral, há muita pressão por produtividade no trabalho ao mesmo tempo que existem pouco investimento em saúde mental e gestão inadequada dos riscos psicossociais”, afirma. “A exaustão das pessoas, a preocupação constante e a falta de autonomia contribuem para índices baixos do IBC.” Segundo ele, tai fatores impedem que haja um ambiente verdadeiramente saudável.

Para reverter baixos índices de saúde mental no trabalho as empresas devem medir e monitorar riscos psicossociais, capacitar líderes para promover bem-estar, reavaliar cargas de trabalho e incentivar a flexibilidade da rotina — Foto: Unsplash

Os segmentos da economia com as melhores notas foram o setor público (69,3), engenharia civil (68,7) e serviços (68,5). Os piores, saúde (60,8), organizações não governamentais (59,9) e o automotivo (58,2). Saúde, aliás, teve uma queda acentuada na comparação anual, de 9,7 pontos. Brandão acredita essa redução pode ser atribuída à sobrecarga extrema dos profissionais, falta de suporte adequado e o impacto residual da pandemia. “Mesmo com a normalização da rotina, a alta demanda por atendimento e a exaustão persistem”, explica. “Além disso, desafios como baixa autonomia e dificuldades no relacionamento com líderes tornam o ambiente ainda mais desafiador, impactando diretamente na saúde mental dos trabalhadores.”

Brandão comenta, ainda, que para reverter esses índices as empresas devem medir e monitorar riscos psicossociais, capacitar líderes para promover bem-estar, reavaliar cargas de trabalho e incentivar a flexibilidade da rotina.

O fundador do Zenklub diz que um aspecto do estudo que o surpreendeu foi o aumento nos conflitos interpessoais e o impacto desproporcional sobre as mulheres. “Elas relatam mais exaustão, preocupação constante e falta de autonomia, o que pode estar ligado à dupla jornada por conciliarem o emprego com tarefas domésticas e cuidados com idosos e crianças”, detalha. “Com isso, as dinâmicas de trabalho podem se tornar também mais tóxicas.”

Ele menciona também que notou uma crescente busca por suporte psicológico entre diferentes grupos etários – “o que demonstra maior conscientização, mas também reforça a necessidade urgente de ações estruturadas para promover um ambiente corporativo mais saudável e sustentável”.

Fonte: Jornal Valor Econômico
12 de fevereiro de 2025