As autoridades de saúde ouvidas por EXAME acreditam que nas próximas semanas vários estados e cidades vão adotar medidas de restrição de circulação e de atividades econômicas. Assim como na Europa, estas novas regras devem se concentrar principalmente em atividades de lazer, como bares e eventos que gerem aglomerações.
“O poder público precisa ter atenção. O processo de flexibilização tive muita falha, como no transporte público que não teve protocolos para evitar a aglomeração. É um lugar com alto risco, por ser fechado, sem boa ventilação”, explica Daniel Villela, pesquisador do Observatório Covid-19 e coordenador do Programa de Computação Científica da Fiocruz.
O pesquisador da Fiocruz ainda observa que o Brasil nunca saiu de fato da primeira onda, com uma queda considerável na média diária de casos de covid-19, oscilando entre 20 mil e 35 mil.
“Na Europa ficou bem mais clara a primeira onda e a segunda onda. Aqui no Brasil o número de casos estava caindo, mas não chegamos a um nível baixo. Ainda estamos em um patamar alto de casos e de óbitos”, diz Daniel Villela.
No hospital Albert Einstein, em São Paulo, o número de internações de pacientes com covid-19 quase dobrou nas últimas semanas.
Hoje, cerca de 95 leitos estão ocupados com pessoas infectadas pelo coronavírus. Outros hospitais particulares da capital paulista e de outras cidades vivem uma situação semelhante. A segunda onda da covid também já provocou uma super lotação em centros de saúde públicos em algumas capitais. No Rio de Janeiro, a taxa de ocupação de leitos de UTI nos hospitais públicos passa de 90%.
“Em certa medida, estamos observando aqui algo parecido com o que aconteceu na Europa”, diz o médico Sidney Klajner, presidente do Einstein. “Houve um descuido da população em relação às medidas de proteção contra a doença, até porque muitos achavam que as vacinas colocariam um fim na pandemia em alguns meses”.
Estados voltam a restringir atividades
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), afirmou na sexta-feira, 27, que o estado enfrenta uma segunda onda de coronavírus e que medidas de restrição serão impostas a partir da próxima semana.
“É um alerta que se apresenta para todo o estado, na mesma direção que está acontecendo em outros estados do Brasil. Estamos de fato vivendo uma segunda onda de coronavírus aqui no Rio Grande do Sul. Na segunda-feira, 30, o governo vai se encontrar com a federação das associações de municípios e estabelecer protocolos em função deste quadro que estamos vivendo. Vamos trabalhar para afetar o menos o possível a nossa economia”, disse ele em um vídeo publicado nas redes sociais.
A equipe do Centro de Contingência da Covid-19 do estado de São Paulo analisa os recentes dados de avanço da doença no estado, sobretudo o aumento de internações em hospitais da região metropolitana da capital, e prepara um plano para frear este crescimento. A nova quarentena será anunciada na segunda-feira, 30.
De acordo com o governo do estado, todas as opções estão na mesa e não está descartada a possibilidade de voltar a restringir a circulação e a abertura do comércio em algumas regiões do estado. Outro ponto que deve ser adotado é restringir atividades de lazer, sem a interrupção das aulas presenciais da rede de ensino, por exemplo.
O coordenador executivo do Centro de Contingência, João Gabbardo, disse que na terça-feira, 24, o comitê se reuniu e elaborou um documento que servirá de base para as decisões do governo do estado. E na recomendação há restrições em algumas regiões.
A prefeitura de Curitiba publicou um decreto nesta sexta-feira, 27, restringindo algumas atividades com o objetivo de conter o avanço da covid-19 na cidade, que piorou nas duas últimas semanas. Ficaram proibidos de funcionar bares, casas noturnas e qualquer tipo de evento que gere aglomeração. Estes estabelecimentos estavam abertos desde o fim de setembro.
Os hospitais da cidade beiram ao colapso de atendimento. Nesta quinta-feira, 26, a taxa de ocupação dos 334 leitos de UTI SUS exclusivos para covid-19 estava em 94%, com apenas 19 leitos livres e a mais alta taxa em meses. Muitos hospitais privados ultrapassaram a capacidade de atendimento nesta semana e recusaram novos pacientes.
O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), disse na quarta-feira, 25, que existe a possibilidade de novo fechamento da cidade para conter casos do novo coronavírus e afirmou que daqui para a frente poderá prender quem desrespeitar as regras impostas pela prefeitura para impedir aglomerações.