A vacina experimental Sputnik V contra o novo coronavírus não parece ser o suficiente para a Rússia. Isso porque, segundo a agência de notícias Reuters, o país deve registrar uma nova vacina já no dia 15 de outubro.
Segundo a instituto Vector Virology Institute and Biotechnology Center, que está desenvolvendo a vacina, ela “consegue formar uma imunidade que dura até seis meses e, se necessário, a vacinação pode ser repetida”.
A vacina do instituto, batizada de EpiVacCorona, foi criada por meio dos peptídeos da covid-19, tecnologia que foi utilizada para criar uma vacina do Ebola, e é capaz de criar uma imunidade duradoura ao vírus.
A campanha de desenvolvimento rápido da Rússia faz parte de um plano do presidente russo Vladmir Putin para tornar o país o “vencedor” da corrida para assegurar vacinas da covid-19.
O instituto de pesquisas recebeu a aprovação do ministério de saúde russo para começar os testes clínicos em voluntários em julho deste ano.
Segundo o país, os testes fora concluídos em 30 de setembro — depois disso, eles afirmam que os testes “pós-registro” serão iniciados. O estudo feito para a primeira fase de testes foi realizado em cinco voluntários, mas a amostra pode aumentar para até 100. As idades deles serão entre 18 e 60 anos.
A primeira registrada no mundo
A primeira vacina desenvolvida no país, pelo Instituto Gamaleya, foi a primeira a ser aprovada no mundo e teve seus primeiros lotes distribuídos para população mesmo sem os testes terem sido finalizados. O instituto russo também disse que recrutou cerca de 25.000 voluntários dos 40.000 que farão parte da fase 3 (a última) de testes. As testagens serão feitas de forma duplo-cega, quando nem o paciente nem os médicos sabem qual droga está sendo administrada.
A vacina do Instituto Gamaleya é baseada no adenovírus humano fundido com a espícula de proteína em formato de coroa que dá nome ao coronavírus. É por meio dessa espícula de proteína que o vírus se prende às células humanas e injeta seu material genético para se replicar até causar a apoptose, a morte celular, e, então, partir para a próxima vítima. Em um resultado preliminar publicado no início deste mês, a “Sputnik V” foi capaz de induzir resposta imune nos voluntários e se mostrou segura nos testes de fase 1 e 2.
Apesar disso, a vacina russa não é vista com bons olhos pela comunidade científica. Em uma carta aberta ao editor da prestigiada revista científica The Lancet, onde os resultados foram publicados, 27 cientistas afirmaram que os dados são incompletos e que a pesquisa tinha alguns “padrões improváveis”. “Enquanto a pesquisa descrita no estudo é potencialmente significativa, a apresentação dos dados levanta várias preocupações que necessitam que consigamos todos os dados para investigar”, explicam os autores da carta.
Em agosto, a Rússia informou que promoverá uma vacinação em massa já em outubro deste ano.
Mais de 20 países já fizeram pedidos de mais de 1 bilhão de doses da vacina russa, mesmo com a preocupação da comunidade científica. Segundo o presidente do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), Jorge Callado, a Sputnik V deve chegar ao Brasil em 2021.
Um movimento parecido está sendo ensaiado pelo presidente americano Donald Trump, que afirmou recentemente que uma vacina contra o vírus pode estar disponível já em outubro. “Teremos em breve essa incrível vacina, com velocidade nunca vista antes”, disse ele. “A vacina será muito segura, muito efetiva, e as pessoas do mundo estarão felizes e voltaremos à prosperidade sem precedentes”, continuou.
Quem terá prioridade para tomar a vacina?
Nenhuma vacina contra a covid-19 foi aprovada ainda, mas os países estão correndo para entender melhor qual será a ordem de prioridade para a população uma vez que a proteção chegar ao mercado. Um grupo de especialistas nos Estados Unidos, por exemplo, divulgou em setembro uma lista de recomendações que podem dar uma luz a como deve acontecer a campanha de vacinação.
Segundo o relatório dos especialistas americanos (ainda em rascunho), na primeira fase deverão ser vacinados profissionais de alto risco na área da saúde, socorristas, depois pessoas de todas as idades com problemas prévios de saúde e condições que as coloquem em alto risco e idosos que morem em locais lotados.
Na segunda fase, a vacinação deve ocorrer em trabalhadores essenciais com alto risco de exposição à doença, professores e demais profissionais da área de educação, pessoas com doenças prévias de risco médio, adultos mais velhos não inclusos na primeira fase, pessoas em situação de rua que passam as noites em abrigos, indivíduos em prisões e profissionais que atuam nas áreas.
A terceira fase deve ter como foco jovens, crianças e trabalhadores essenciais que não foram incluídos nas duas primeiras. É somente na quarta e última fase que toda a população será vacinada.
Quão eficaz uma vacina precisa ser?
Segundo uma pesquisa publicada no jornal científico American Journal of Preventive Medicine uma vacina precisa ter 80% de eficácia para colocar um ponto final à pandemia. Para evitar que outras aconteçam, a prevenção precisa ser 70% eficaz.
Uma vacina com uma taxa de eficácia menor, de 60% a 80% pode, inclusive, reduzir a necessidade por outras medidas para evitar a transmissão do vírus, como o distanciamento social. Mas não é tão simples assim.
Isso porque a eficácia de uma vacina é diretamente proporcional à quantidade de pessoas que a tomam, ou seja, se 75% da população for vacinada, a proteção precisa ser 70% capaz de prevenir uma infecção para evitar futuras pandemias e 80% eficaz para acabar com o surto de uma doença.
As perspectivas mudam se apenas 60% das pessoas receberem a vacinação, e a eficácia precisa ser de 100% para conseguir acabar com uma pandemia que já estiver acontecendo — como a da covid-19.
Isso indica que a vida pode não voltar ao “normal” assim que, finalmente, uma vacina passar por todas as fases de testes clínicos e for aprovada e pode demorar até que 75% da população mundial esteja vacinada.
Os tipos de vacina disponíveis
Alguns tipos de vacina têm sido testados para a luta contra o vírus. Uma delas é a de vírus inativado, que consiste em uma fabricação menos forte em termos de resposta imunológica, uma vez que nosso sistema imune responde melhor ao vírus ativo. Por isso, vacinas do tipo têm um tempo de duração um pouco menor do que o restante e, geralmente, uma pessoa que recebe essa proteção precisa de outras doses para se tornar realmente imune às doenças. É o caso da Vacina Tríplice (DPT), contra difteria, coqueluche e tétano. A vacina da Sinovac, por exemplo, segue esse padrão.
Outro tipo de vacina é a de Oxford, feita com base em adenovírus de chimpanzés (grupo de vírus que causam problemas respiratórios), e contendo espículas do novo coronavírus.
Fonte: https://exame.com/