Gastar pouca energia e descartar o lixo direitinho costumam estar entre as metas de dez em dez indústrias. Amarrar essas duas pontas, no entanto, não é tarefa fácil. Para unir a produção sustentável e o mínimo impacto ambiental, a fabricante de arroz Fumacense Alimentos entendeu que a resposta estava em reaproveitar todos os resíduos — e transformá-los em energia.
Com um processo de queima, a empresa de Morro da Fumaça, em Santa Catarina, que fabrica produtos à base de arroz, transformou 22.000 toneladas de resíduos em energia elétrica em 2020. O processo é comum na parboilização do arroz, e o vapor resultante da queima das cascas da planta gerou 6.293 MW (megawatts), energia suficiente para abastecer 5.000 residências de até três pessoas durante o período de um ano, segundo a empresa.
A necessidade de ampliar a atuação ambiental foi percebida ainda em 2008, quando a Fumacense teve acesso a um estudo que mostrou que as cascas de arroz descartadas a céu aberto eram responsáveis pela emissão de grande quantidade de gás metano na atmosfera. “Ficamos assustados quando percebemos o volume de resíduos que produzíamos. A empresa estava em fase de crescimento”, disse Lucas Tezza, coordenador da usina de energia elétrica da Fumacense.
Uma década depois, toda a geração de eletricidade da indústria já estava por conta da Fumacense. Em um sistema de cogeração de energia (que combina calor e eletricidade), a usina termelétrica no município de Morro da Fumaça tem queimado 90 toneladas de cascas de arroz por dia — e transformado isso em energia elétrica.
Segundo Tezza, os ganhos vão bem além do ponto de vista ambiental. A autossuficiência faz com que a matriz da empresa anule os custos com energia elétrica. “Produzir nossa própria energia gera uma economia absurda. Nossa fatura mensal é praticamente zero”, diz.
Com a queima das cascas, surgiu a necessidade de olhar para um outro tipo de resíduo: as cinzas. Para isso, a empresa se uniu a fabricantes, indústrias siderúrgicas e ceramistas locais para incorporar as cinzas do arroz na produção de cimentos e tijolos. O esforço faz com que as produtoras extraiam até 15% menos matéria-prima do solo, segundo Tezza. “Essa é uma contribuição nossa e que apostamos muito. Não cobramos nada, apenas oferecemos essa matéria para os ceramistas”.
Para 2021, a empresa estima aumentar o consumo de energia, ao mesmo tempo que mantém o nível médio de queima de combustíveis. Tezza prevê ainda que o vapor do arroz gere ainda mais energia do que será demandado pela Fumacense. Esse cenário representaria a entrada da empresa no mercado livre de energia, ambiente de livre contratação no qual consumidores podem comprar a energia elétrica diretamente dos geradores. “Todo o nosso excedente será jogado na rede para venda. Iremos nos tornar comercializadores entre o final de 2021 e início de 2022″.
“Estamos sempre inovando e buscando entender se nossas operações estão afetando o meio ambiente. Sabemos que zerar impacto ambiental é algo muito difícil, mas estamos bem próximos diss18/01/2021
Fonte: Exame