Montadoras reclamam de desequilíbrio e reforçam pedido por recomposição de imposto sobre eletrificados
As importações de veículos devem ultrapassar as exportações até o fim de 2024. Os números servem de base para a Anfavea (associação das montadoras) defender o fortalecimento de acordos comerciais e a recomposição imediata do Imposto de Importação para modelos híbridos e elétricos.
“Apesar do crescimento [de 14,6%] das vendas no primeiro semestre, apresentamos um cenário de estabilização, com produção estagnada. As exportações caíram 28,3% e houve uma alta desenfreada das importações”, diz Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea.
A chegada de carros vindos do exterior teve alta 11% na comparação entre o primeiro semestre de 2024 e igual período de 2023. De acordo com os dados da Anfavea, o Brasil recebeu 146 mil veículos nos últimos seis meses, número que inclui modelos trazidos da Argentina, principal parceiro comercial do país no Mercosul.
No mesmo período, as montadoras com fábricas nacionais exportaram 165 mil unidades –a maior parte foi destinada a países da América Latina. Pelo ritmo atual, a associação das fabricantes projeta que a balança comercial vai pender para as importações até o quarto trimestre.
Os números divulgados pela Anfavea mostram que 78% do crescimento dessas importações se deve à chegada de carros produzidos na China. As marcas BYD e GWM, que terão fábricas no Brasil, são as protagonistas: juntas, já comercializaram 45,3 mil unidades em 2024, e todas são eletrificadas (híbridos ou 100% elétricos).
O “fator China” é a diferença do momento atual para outros períodos em que as importações superaram as exportações. Esse fenômeno ocorreu, por exemplo, na primeira metade dos anos 1990, época de retorno dos carros estrangeiros ao mercado nacional. O quadro foi revertido com seguidas mudanças nas tarifas.
A Anfavea diz que, seguindo movimentos globais diante do avanço chinês, sempre lutou pela volta integral da alíquota de 35% sobre importados eletrificados. Esses automóveis estiveram isentos do tributo até o fim de 2023.
“Sempre defendemos a recomposição imediata, houve um pedido para retomada do Imposto de Importação, e a alíquota no Brasil é mais baixa do que em outros países”, afirma Leite.
O governo, contudo, optou por uma retomada gradual da tributação. Pela norma, que prevê um escalonamento, a alíquota de 35% para os automóveis híbridos e puramente elétricos só seria recomposta em julho de 2026.
Nesta segunda (1º), passaram a vigorar as seguintes taxas: 18% para carros 100% elétricos, 24% para os híbridos plug-in (também podem ser recarregados na tomada) e 25% para os demais híbridos.
Em entrevista coletiva realizada nesta quinta (4), o presidente da Anfavea mostrou os valores propostos para taxação de importados elétricos em diferentes países. Segundo os dados, as alíquotas chegam a 106% no Canadá e a 102,5% nos Estados Unidos. Na União Europeia, a tributação varia de 27% a 48%.
No mercado indiano, que tem semelhanças com o brasileiro e busca estimular a produção local, a tarifa chega a 100% sobre o valor do veículo.
Leite diz que, hoje, a China cobra uma alíquota de 25% sobre veículos importados, mas esse tributo chegou a 80% no início dos anos 2000. Na época, objetivo era estimular a chegada de montadoras estrangeiras no país, que fez parte de uma política governamental em prol da industrialização.
Toda montadora que entrava naquele mercado precisava se associar a empresas locais, sendo o governo o principal acionista. Essa iniciativa ajudou o país asiático a se tornar uma potência global no segmento automotivo.
Além do impacto no comércio nacional, a estratégia chinesa de expansão também afeta as exportações da indústria nacional. Enquanto a participação dos carros feitos no país asiático subiu no México, no Chile e no Uruguai, os modelos feitos no Brasil perderam espaço nesses mercados.
Para recuperar espaço, Ciro Possobom, presidente da Volkswagen do Brasil, defende a recomposição imediata da tarifa de importação para eletrificados e a exclusão do setor automotivo do futuro imposto seletivo, apelidado como “imposto do pecado”.
“Colocaram automóveis na mesma condição de cigarros e bebidas alcoólicas; para nós, isso não está correto”, disse o executivo. Ele defende que uma redução de 5% nos impostos permitiram queda no preço dos veículos e, por consequência, um aumento de 345 mil unidades fabricadas por ano.
Segundo a Anfavea, a produção de veículos leves e pesados terminou o primeiro semestre com alta de 0,5%, o que indica estabilidade. A informação foi divulgada nesta quinta (4).
Foram fabricadas 1,138 milhão de unidades no país entre janeiro e junho. As montadoras operam com 45% de capacidade ociosa atualmente, de acordo com a associação das montadoras.
As vendas acumulam alta de 14,6% no primeiro semestre, com 1,144 milhão de veículos leves e pesados emplacados entre janeiro e junho. O dado é da Fenabrave (associação dos distribuidores de veículos).
Fonte: Jornal Folha de S.Paulo
05 de julho de 2024